— Qual é o seu problema?
— Desculpa, mas o senhor poderia me explicar o que é “problema”? É que eu vim aqui porque, de repente, a cada dia, eu perco uma palavra do meu vocabulário.
— Bom, podemos dizer que esse é o seu problema. Desde quando isso vem acontecendo?
— Há, mais ou menos, uns dois meses.
— Tá certo... E como você se deu conta disso?
— Não sei se mencionei, mas sou escritora.
— Não, não mencionou.
— E eu reparei que, cada vez mais, eu estava precisando do dicionário de sinônimos pra desenvolver os meus... Hã...
— "Livros"?
— Serve. Mas eu queria usar o gênero literário em si. É que me escapou... Tsc! Como que se chama mesmo?
— "Romance"?
— Não faço ideia. Mas vamos de "livros". E pra desenvolvê-los sem tantas repetições de palavras, eu tava recorrendo a essas ferramentas que têm na internet pra encontrar sinônimos, porque eu já não tava mais conseguindo pensar... Hum... Como que se diz quando você não está com outra pessoa?
— "Sozinho"?
— É, deve ser... Então nesse caso, eu não tava conseguindo pensar sozinha.
— E tem alguma outra coisa que tenha te feito perceber essa sua perda de vocabulário?
— Sim. Enquanto eu relia o que eu escrevi, encontrei uma série de palavras que eu desconheço.
— Você tem anotado essas palavras?
— Aham. Só que não tem adiantado procurar o significado delas, porque eu simplesmente não estou conseguindo abstrair.
— Será que você poderia me dizer que palavras são essas?
— Sim, só um instante, que eu vou pegar... Pegar o meu caderno que... Aqui, tá aqui. Veja só: felicidade, sonho, plenitude, satisfação, coragem, sentido, meta, planos, futuro... Essas foram algumas das que eu anotei, mas têm muitas outras.
— Posso lhe fazer uma pergunta?
— Claro, doutor, eu to aqui pra isso.
— A senhora viveu, recentemente, alguma decepção amorosa?
— Hum... Aí é que tá. "Amorosa" vem de "amor", imagino. Estou certa?
— Perfeitamente.
— Pois é. Eu perdi essa palavra hoje
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