Estava guardando a leitura desse livro para um momento especial, porque eu estava esperando boas coisas, até porque a temática é extremamente interessante e eu nunca havia visto algum outro livro semelhante. Aliás, sonho é uma temática intrigante, até por se tratar de um campo desconhecido - pelo menos pela maior parte da população - e pela facilidade que temos de nos identificarmos com as sensações tão curiosas que envolvem o mundo onírico, sua natureza simbólica e etc. Resta dúvidas que se tratava de um livro atraente pra mim? Mas foi justamente a elevação das minhas expectativas que fez com que eu quebrasse ainda mais feio a minha cara.
Quanto à escrita do autor em si, não há muito do que reclamar. Ele escreve bem, não há dúvida. Seus parágrafos são muito bem construídos e fluídos - bem mais que os diálogos, diga-se de passagem. Mas minhas ressalvas não estão nisso... E elas se encontraram em aspectos que fizeram com que o livro caísse e muito no meu conceito.
O que me incomodou - e me incomoda em todo livro que estiver em minhas mãos - foi a construção das personagens, sobretudo com relação às personagens femininas. E mais! A forma que os diálogos e as situações se desenrolavam quando essas personagens femininas estavam em foco.
Não é de hoje que sabemos que estarmos no século XXI e avançando nos anos não tem significado o extermínio do machismo. Muito embora tenhamos conquistado avanços notáveis e essenciais para o bem estar das mulheres, sabemos que o machismo perdura, sobretudo em sutilezas que podem passar despercebidos por olhos desatentos, mas infelizmente o machismo que encontrei nesse livro não era nada sutil, porém berrante e extremamente incômodo!
Para começar, temos a Eva. Quão ridículo é ver uma doutora ser tratada com desrespeito de todos seus colegas de trabalho sob a passividade da própria? Eva era assediada por todos os homens que a rodeavam, absolutamente todos! E ela nem ao menos registrava isso muito bem. Pelo pouco contato que tenho com estudantes de psicologia, o que posso dizer, com certa segurança, é que eles têm uma tendência a se oporem a esse tipo de machismo "sutil", que se disfarça por meio de elogios "inofensivos", mas que diminui a mulher, sobretudo quando ela é alvo desse tipo de atitude em sua área de trabalho.
E não para por aí. Todas as personagens femininas, em todas as cenas em que estiveram presentes, quando não falavam sobre sexo, estavam fazendo sexo ou sendo maliciosas ou alvo da malícia masculina. Não sei que universo é o que o autor vive, mas o que me pareceu é que ele ainda é, com desculpa do vocabulário, um adolescente punheteiro, que não consegue enxergar a mulher muito além da disposição da lascívia masculina.
Isso sem mencionar a facilidade que o estupro era tratado pelos personagens masculinos. Como na cena em que um vilão ameaçou estuprar uma moça e o Alec, que supostamente é o mocinho, ouviu isso com tanta naturalidade, que até mesmo fez uma "gracinha" em resposta a essa ameaça.
Livro: O Sonho De Eva
Autor: Chico Anes
Editora: Novo Conceito Jovem
1ª impressão, 2012
Páginas: 304
Nota: 2 de 10
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